terça-feira, 4 de junho de 2013

Senhora-José de Alencar (Trecho, Parte I )

Na minha opinião essa é a parte mais marcante do livro. *v*


R.B


(...) Seixas ajoelhou aos pés da noiva; tomou-lhe as mãos que ela não retirava; e modulou o seu canto de amor, essa ode sublime do coração que só as mulheres entendem, como somente as mães percebem o balbuciar do filho.
 
A moça, com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada, os olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se embebia dos eflúvios de amor, de que ele a repassava com a palavra ardente, o olhar rendido e o gesto apaixonado.
 
- É então verdade que me ama?
 
- Pois duvida, Aurélia?
 
- E amou-me sempre, desde o primeiro dia que nos vimos?

- Não lho disse já? 
- Então nunca amou a outra?
 
- Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para minha esposa, para ti...
 
Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva.
 
Aurélia estava lívida e sua beleza, radiante há pouco, se marmorizara.

- Ou para outra mais rica!... disse ela, retraindo-se para fugir ao beijo do marido e afastando-o com a ponta dos dedos. 
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.
 
- Aurélia! Que significa isto?

- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é: eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido. (...)

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